segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Com tecnologia de realidade virtual, cyberarqueólogos mapeiam área habitada há mais de 12.600 anos em Dourado, SP

Grupo que viveu em terreno de fazenda é mais antigo do Estado de São Paulo. Dados de artes rupestres, por exemplo, são preservados e podem ser usados em pesquisas.
Área em fazenda de Dourado foi habitada há mais de 12.600 anos (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

Cyerarqueólogos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) descobriram em Dourado (SP) um sítio arqueológico que foi habitado pelo grupo mais antigo do Estado de São Paulo, há mais de 12.600 anos.

Com a ajuda da tecnologia de realidade virtual, eles escavaram e escanearam o local, fazendo constatações inéditas. Entre elas estão as artes rupestres, que são as representações feitas em cavernas e abrigos. Tudo poderá ser preservado e servir como fonte de informação para pesquisas.

Descoberta durante visita
Dourado fica a 280 quilômetros da capital paulista e, em meio a um cenário natural exuberante, está um pedaço de terra no meio de um vale que guarda uma história de milhares de anos.
Arqueólogos fazem trabalho em área de fazenda em Dourado (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

A área fica dentro de uma fazenda e os pesquisadores foram convidados pelo dono, que também é apaixonado por arqueologia, para explorar a área. Os primeiros indícios para essa descoberta foram encontrados durante uma visita do professor Astolfo Araújo, o coordenador da pesquisa.

Escavação minuciosa
A descoberta pode ser um grande passo para a história e, para chegar até ela, é feito um trabalho de ‘formiguinha’. A escavação tem que ser com todo cuidado para não quebrar ou perder nenhuma amostra.
Escavação é feita e depois peneira separa o material em Dourado (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

"Dependendo da dureza e da compactação do solo demora praticamente meio dia, um dia todo para a gente conseguir descer um nível de 10 centímetros, mais ou menos. É um trabalho bem braçal, mas é satisfatório quando a gente faz o que gosta”, explicou o arqueólogo Glauco Constatino.

Para que nada passe despercebido, a terra retirada passa por peneiras. A arqueóloga voluntária Nina Hochreiter procura o tesouro, mas ele não precisa ser dourado, nem brilhante. Se for uma pedra lascada, mesmo pequena, já é considerada preciosa.

"A gente consegue definir que foi um lascamento feito pelo homem. Eles podem ter usado para encrustar em madeira, pegar um toco, fazer com uma faca de serra e isso podia cortar árvore, fruto, limpar a pele dos animais. Você pode usar para várias coisas”, explicou.

Pedra lascada conta história de milhares de anos do Estado de São Paulo (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

O trabalho de escavação e análise não para um minuto e, às vezes, a arqueologia pode até parecer coisa de filme, em um estilo Indiana Jones, mas não essa comparação não é possível. “O Indiana Jones é um personagem da ficção em que ele trabalha em construir coleções, é um colecionista. A gente trabalha com a compreensão do modo de vida dessas populações e não só com acumulação de objetos", explicou Constatino.

Scanner de altíssima precisão
Também há a preocupação com a exploração do terreno, em mantê-lo preservado depois da pesquisa. É nesse momento que a tecnologia entra em ação. Com um scanner a laser, de altíssima precisão, eles fazem um mapeamento do terreno e obtêm detalhes de cada escavação. O grupo trabalha com imagens em 360 graus e imagens em 3D.

Com os dados que ele gera, é possível fazer uma reprodução virtual perfeita de todo o sítio arqueológico. Na escavação escaneada fica mais fácil diferenciar o que é terra, pedra ou material arqueológico. A ideia é que outros cientistas possam pesquisar essa área, sem nem precisar sair do laboratório de pesquisa.
Scanner de altíssima precisão faz o mapeamento de sítio arqueológico em Dourado (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

Por coincidência, os materiais encontrados nas expedições são de óxido de silício, o mesmo elemento que compõe os chips dos computadores. “Podemos mandar para um colega em outro país e ele pode ajudar a gente a interpretar alguma coisa e vice-versa, fazendo essa troca de informação de forma mais rápida e fidedigna”, disse Araújo.
Texto e Fotos: G1

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